As vezes tenho dificuldade de expressar porque me sinto tão grata pela inspiração que me levou a decisão de ser geógrafa. A primeira vez que essa ideia veio a minha cabeça, eu já estava finalizando meu ensino médio. Durante toda a minha formação escolar eu quis ser arqueóloga e ir para o Egito desvendar os mistérios de Atlântida.

Exatamente isso.

Quem me conhece sabe que livros do Egito Antigo, estátuas de faraós e hieróglifos escritos na parede do meu quarto, fizeram parte da minha adolescência.

Sempre gostei de estudar e ler. Sempre me vi em uma carreira acadêmica emendando diversas formações. Isso não mudou.

Mas quando cheguei no terceiro ano do ensino médio, outras coisas se tornaram importantes pra mim. Dentre eles, a criação de raízes. Pela minha história de vida, isso só viria por uma decisão minha (não que eu já tenha alcançado isso). Consegui visualizar a prática da profissão, entende-la com mais clareza. Até que cheguemos no momento de realmente decidir sobre nosso futuro, qualquer profissão parece possível e linda.

Eu sempre quis ser esposa. E sempre quis ser mãe. A arqueologia poderia me dificultar um pouco nisso e, naquele momento, entendi que desvendar os mistérios de Atlântida, poderia esperar.

Então ouvi uma voz: faça Geografia. Até aquele momento, apenas uma amiga muito próxima minha havia falado de ser geógrafa (mas hoje ela é advogada). Em casa, conversando com familiares sobre a possibilidade, fazer Geografia parecia uma maluquice. Esse trem da dinheiro?

Fui fazer Publicidade e Propaganda. Por dois anos e meio me dediquei a algo que, embora eu respeite e admire, sabia no meu íntimo que não era pra mim.

Larguei.

Voltei ao cursinho e pensei em retomar minhas origens. “Que tal então arqueologia? eu vou conseguir ser mãe e ser arqueóloga. Vou sim!”. Mas eu sabia que não era pra ser isso. Sempre sabemos, por esse misterioso canal de comunicação chamado intuição, o que devemos fazer da nossa vida.

Naquele dia, o ultimo dia para mudar qualquer dado na inscrição para o vestibular da UnB, desci meio errante as escadas do cursinho em direção a sala dos professores.

Lá havia um professor sentado, que eu não conhecia. Olhei pra ele e perguntei: “Estou meio perdida…que curso eu faço?”

Ele prontamente respondeu: “Faça Geografia!”

Eu arrepiei. Me lembrei do chamado que recebera anos antes e tomei a decisão.

Esse professor se tornou, no futuro, o meu coordenador pois eu lecionei nesse cursinho por dois anos.

Não racionalizei, não pensei no salário, no baixo status da ciência, não pensei que dizer a minha mãe que seria médica poderia gerar mais contentamento, e nem pensei no que faria exatamente.

O movimento do universo me guiou para essa profissão.

Ah! Gratidão!

Com a Geografia me tornei professora. Com a Geografia conheci a Fenomenologia e a Antroposofia. Com a Geografia comecei a trabalhar com educação inclusiva. Com a Geografia me tornei formadora de professores. Com a Geografia encontrei meu projeto de vida profissional. Junto com a Geografia me tornei esposa e mãe.

Sou grata por cada pedaço de amor que recebi dessa ciência. Percorro nela um caminho muito diferente de muitos, eu sei. Não digo que é melhor – é o melhor pra mim.

Na defesa de minha tese de Doutorado pude falar de uma Geografia Espiritual, da necessidade de concebermos o homem e seu existir a partir de sua estrutura tripartida: corpo, alma e espírito (já dizia Aristóteles long time ago). Pude mostrar a Janaína que sou com mais clareza.

Sempre recebi no seio de minha família uma base espiritual que me guia. Hoje trago isso pra ciência e para a formação de professores. Por isso criei a EducaEthos: Escola de Formação Humana.

Eu encontrei a minha Atlântida!

Sempre digo e repito: Geografia é amor! Não posso dizer outra coisa de uma ciência que tem sido porta para o meu encontro comigo mesma.

Viva o dia do geógrafo e da geógrafa! Viva meu dia!